Cinco meses depois de anunciar que os serviços de saúde prestados e gerenciados estavam comprometidos por falta de recursos, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) declara, em carta aberta à população, passar por uma crise sem precedentes em seus 55 anos de funcionamento.
Com atraso no pagamento de funcionários e fornecedores e redução do número de atendimentos, a instituição mostra preocupada em normalizar a situação urgentemente para que “não interrompa sua trajetória de décadas em servir às famílias pobres da nossa região”.Os Hospitais Miguel Arraes, em Paulista; Dom Helder Camara, no Cabo de Santo Agostinho; e Dom Malan, em Petrolina (o Pelópidas da Silveira, no Recife, é o único sem déficit) acumulam uma conta de R$ 36,9 milhões. As UPAs do Cabo, Barra de Jangada, Engenho Velho, Caruaru, São Lourenço da Mata, Olinda, Igarassu e Paulista somam um déficit de R$ 30,4 milhões. Entre as UPAEs a conta (R$ 1,1 milhão) fica com a de Garanhuns. As de Salgueiro e Petrolina estão saneadas.
Em outro trecho destaca que o Imip, “por sua história de dedicação exclusiva ao Sistema Único de Saúde e reconhecida eficiência administrativa, foi convidado por vários governos municipais e estaduais a participar como OS de licitações para assumir a gestão de unidades para prestação de serviços de saúde. Num passado recente, devolvemos ao Estado da Bahia a administração de dois hospitais”.
Procurado pelo JC para comentar o documento, o presidente da instituição, Gilliatt Falbo, não quis falar sobre os números. Disse apenas que estão sendo reduzidos os atendimentos sem gravidade e sem urgência, em acordo com a Secretaria de Saúde do Estado. E que o Imip é tão vítima dessa situação quanto os pacientes. “Somos prestadores de serviço e fazemos isso com a maior qualidade que podemos”, destaca.
Pacientes do prédio-sede, nos Coelhos, área central, sentem mudanças na qualidade do atendimento. Elogiando muito o serviço, a dona de casa Lúcia de Araújo, 48, conta ter um filho especial, de 22 anos, que desde 1 ano e meio é tratado no local, onde ela também é atendida em variadas especialidades. Mas lamenta a troca de médicos. “Cheguei hoje e minha ginecologista havia mudado, fiquei triste, muitos médicos estão saindo, pedindo demissão”, comenta.
“Meu sobrinho, de apenas cinco meses, está internado com convulsões há duas semanas e os médicos não falam com a gente, não dão uma satisfação”, critica a estudante Beatriz Nogueira, 17. A comerciante Andrea Nascimento, 33, acompanha a irmã com a filha, de três meses, que tem um cisto na cabeça, e diz que houve confusão no atendimento. “Mandaram vir hoje (ontem) para ela se internar, mas esperamos um tempão para um cirurgião dar uma olhadinha e dizer que a gente voltasse na próxima semana para uma punção. E iam pedir de novo o mesmo exame, isso aqui tá muito mudado”, relata.
SEM SURPRESAS
A crônica de uma morte anunciada. É assim que o vice-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Tadeu Calheiros, define a situação do Imip. “Não estamos surpresos, a crise só evidencia o caos já existente no sistema de saúde, que é generalizado, e só se resolverá com uma política adequada de financiamento do setor”, declara. “Vamos procurar a Secretaria de Saúde para que se pronuncie e é preciso o Ministério Público intervir.”
Conforme Tadeu Calheiros, ainda nesta terça um grupo de médicos da UPA do Cabo, gerenciada pelo Imip, procurou o sindicato para se queixar de atraso salarial, falta de medicamentos e de material de trabalho. “Desde o governo federal ao municipal o cenário é o mesmo. Recebemos reclamações diárias desse tipo, partindo de profissionais de UPAs e de grandes hospitais e o problema aumenta em progressão geométrica.”
Fonte: Jornal do Commercio
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